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As sibilas de Michelangelo

CULTURA

Thais Regina Ravazi de Souza
por publicado: 25/05/2020 15h00 última modificação: 25/05/2020 15h00

As sibilas de Michelangelo

 

Thais Regina Ravazi de Souza[1]

 

Que Michelangelo é um gênio da pintura e escultura, isso nós já sabemos, mas o que descobrimos ao observarmos as cinco sibilas pintadas por ele no teto da Capela Sistina, na Itália, é que sua obra vai além do conhecimento acadêmico, ela toca a alma. Aristóteles, anos antes, na antiguidade, já dizia que “a alma nada sofre sem um corpo”, indicando que não há fragmentos independentes num Homem, se o corpo padece a alma pode padecer também ou vice-versa. Por esta temática, entendemos que as obras de Michelangelo, captadas pelos olhos podem ser degustadas pela alma, numa sincronia perfeita entre o corpo, o intelecto e o sensível.

Michelangelo Buonarotti nasceu e cresceu na Itália, em Florença, lugar onde as inovações artísticas aguçadas por um caráter racional e científico tomavam forma e se transformariam, no transcorrer histórico, num marco da arte moderna. A época em que Michelangelo viveu e apresentou suas obras ao mundo, denomina-se Renascimento, período de significativas mudanças na filosofia, ciências e artes. Por retomar a arte da antiguidade, porém sem copiá-la e sem imitá-la, o Renascimento se caracterizou com a expressão “o nascer de novo”.

Neste âmbito de criação, transformação e inovação, Michelangelo convidado pelo então Papa Julio II, iniciou a pintura do teto da Capela Sistina. De início, nega, depois se entrega ao empreendimento artístico, que durou de 1508 a 1512 e que se perpetua até os dias atuais. Já no teto, Michelangelo dividiu este em quatro grandes grupos: o primeiro, no centro (lunetas), pintou 9 cenas do livro de gênesis; o segundo, nos quatro cantos (pendentes) cenas do povo de Israel; o terceiro, na lateral central (lunetas), pintou 12 cenas de profetas e sibilas; o quarto grupo, nos triângulos das laterais (tímpanos) cenas dos antepassados de Cristo.

Numa análise geral sobre as características principais, vemos que as pinturas possuem um aspecto religioso, advindas do conhecimento adquirido pelo artista e as histórias retiradas do Antigo Testamento. Porém dentre as personagens, observamos que cinco cenas estão relacionadas às Sibilas, mulheres pagãs, mas que em suas profecias fizeram menção ao filho de Deus, Jesus. Talvez Michelangelo pela tradição, tivesse a intenção de unir o mundo cristão ao pagão por meio das imagens das sibilas! Suposição ou certeza?

Bom, só sei que ao entrar na Capela, se posicionar de costas ao altar e erguer os olhos, a primeira profetisa a ser admirada é Líbica, com sua beleza juvenil e uma luminosidade em suas vestes, Michelangelo mostra ao mundo uma beleza estética perfeita. A exposição de seus ombros, detalhando músculos como o deltoide, nos dá a noção do conhecimento anatômico que o artista dispunha. Líbica segura um livro aberto em suas mãos, este movimento pode expressar o conhecimento por meio de sua profecia, em que anunciou a vinda do Messias.

Em seguida Cumeia, a sibila ao qual Apolo lhe ofereceu anos de vida coerentes aos grãos de areia que uma mão conseguir segurar, em troca teria que manter relações sexuais com ele, ao se negar foi condenada a aparentar sua real idade eternamente, com isso Michelangelo a pinta com a face de uma mulher idosa, mas com a musculatura forte e robusta. Dentre suas previsões, Cumeia profetiza o nascimento do Rei dos Reis.

Na sequência, a terceira sibila vista no teto é Délfica, com sua beleza juvenil e braços a mostra, Michelangelo destaca seus olhos a olharem ao horizonte, esta ação nos possibilita a imaginar que ela está a olhar o futuro, contemplando a eternidade. O futuro que em sua previsão seria a morte de Cristo para a salvação de todos.

Em Eritreia, o artista expõe com perfeição a extensão do braço, detalhando os músculos proeminentes, uma parte do busto e do pescoço, por ela estar a olhar lateralmente um livro aberto. Em sua profecia anunciou Cristo ainda bebê nos braços de uma virgem hebreia.

A quinta profetisa, chamada de Pérsica, é a mais antiga sibila da mitologia greco-romana, considerada o oráculo de Apolo e que profetizou o nascimento de Cristo do ventre de uma virgem. Assim como Cumeia, Michelangelo a pintou com a face envelhecida e o corpo coberto com túnica e mantos, expondo poucas partes. Aparenta ter dificuldade na leitura, pois traz o livro para perto de seus olhos, isso nos dá a possibilidade de supor que ela apesar da idade avançada, está em busca de conhecimentos científico, esta ação estimula o observador a um recomeço ou uma continuação de seus estudos acadêmicos, independentemente da idade em que se encontra.

E assim termina nosso tour pelas pinturas das sibilas de Michelangelo que em sua arte, nos toca a alma por meio do aspecto sensível que emana ao corpo, numa cumplicidade que nos torna completo, inteiro, Homem. Lhes garanto que nossas pesquisas não terminam por aqui, uma vez que os mistérios contidos nas pinturas ainda nos provocam inquietações. Quais mistérios nos aguardam?



[1] Mestre pelo Programa de Pós-Graduação PPIFOR – UNESPAR/campus de Paranavaí