As integrantes do Centro de Apoio e Desenvolvimento do Idoso (Cadi) do campus de Campo Mourão da Universidade Estadual do Paraná (Unespar) doaram, entre maio e junho deste ano, 582 peças de inverno feitas à mão a vítimas das enchentes do Rio Grande do Sul.

Contando com 39 mulheres de maioria idosa, o Cadi, criado em 2017 e ligado ao programa de extensão Unespar 60+, que traz pessoas idosas ao ambiente acadêmico para socializar, aprender e ter qualidade de vida, confecciona, anualmente, itens de inverno, como toucas, echarpes, cachecóis, mantas e luvas para doação. Os destinatários da ação são escolhidos pelas próprias componentes do Centro.

No caso do RS, não foi diferente. Devido à emergência das enchentes no estado, as integrantes decidiram, por unanimidade, pelo envio de peças aos atingidos pela catástrofe.

A motivação para a decisão pode ser resumida na alegoria elaborada por Maria Ribeiro de Lima, uma das componentes do Cadi que contribuiu com a confecção dos itens: “passou um passarinho levando água no biquinho [para apagar um incêndio] e os outros debocharam dele. O que ele ia fazer com uma gota de água? Aí ele falou que se todos fizessem assim, a união faria a força", explicou.

Originalmente, foram 86 itens, resultantes de sobras da campanha de doação de 2023, despachados em maio, imediatamente após a irrupção das chuvas no RS. Em seguida, e já no contexto da campanha deste ano, as mulheres do projeto deliberaram por tomar o estado da região Sul do país como foco da ação, enviando mais 496 peças ao RS no final de junho.

A coordenadora do Cadi, a professora Divânia Rodrigues, se disse honrada em fazer parte do projeto e observou, na iniciativa de doar as peças ao RS, “uma beleza no trabalho solidário, voluntário e uma ciranda de pessoas – algumas identificadas, outras anônimas, participando”. A docente ainda afirmou que a ação lembra “uma frase de Paulo Freire que diz que não há mudança sem sonho como não há sonho sem esperança” na medida em que “as mulheres do Cadi passam a sonhar todos os dias e esperançar em dias melhores para as pessoas que receberão essas doações”.

O motor do gesto coletivo, como não poderia deixar de ser, foi a solidariedade com as vítimas. Luíza de Lima, irmã de Maria Ribeiro, afirmou que “o pouco que a gente pôde [fazer], mandamos para lá com o coração cheio de carinho”. O mesmo sentimento pode ser observado nos discursos de Benedita Quennenhen e Maria Biondaro, que demonstraram estar gratificadas com doação que fizeram.

Maria Alves dos Santos, a Dona Santinha, de 71 anos, aluna de graduação de pedagogia da Unespar e bolsista do Cadi por meio do programa Unespar 60+, fez coro com as colegas e afirmou se sentir “mais feliz quando o material chegou [no RS] e distribuíram para as famílias. Fiquei realizada quando vi que o pessoal já estava utilizando esse material”.

O Centro, localizado em uma sala do campus de Campo Mourão, se mantém da contribuição de materiais provenientes de pessoas anônimas, entidades como a Associação das Senhoras de Rotarianos (ASR) e o Grupo do Bem, e direção do campus. No ano passado, o Cadi já havia doado mais de 300 peças a pessoas em situação de rua da cidade do centro-oeste paranaense, pacientes de câncer da Santa Casa do município, além de integrantes do Lar dos Idosos Joaquim e Santana.

O projeto atende pessoas idosas da Comunidade dos Municípios da Região de Campo Mourão (Comcam) interessadas na interação promovida pelo grupo, cujas atividades incluem cursos de artesanato, palestras, exibição de filmes, oficinas, feiras, rodas de conversa, entre outras ações que articulam teoria e prática na tentativa de tornar mais saudável a terceira idade.