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Projeto de Extensão "Observatório da Questão Agrária", do campus de União da Vitória, fortalece a luta pela terra e justiça social na região do Contestado
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Você sabia que a Universidade Estadual do Paraná (Unespar), através do campus de União da Vitória, é um espaço ativo de articulação e construção de ações voltadas à questão agrária no Paraná? O projeto de extensão "Observatório da Questão Agrária no Paraná – Reduto Contestado" (OQA-Contestado), coordenado pela professora Diane Gemelli, do colegiado de Geografia, tem como foco promover um diálogo contínuo sobre a questão da terra, a distribuição de recursos e as dificuldades enfrentadas pelas comunidades rurais no território do Contestado paranaense.
O projeto se insere no histórico e conflituoso território do Contestado, onde, no início do século XX, ocorreu a maior guerra civil camponesa do Brasil. Essa região ainda carrega cicatrizes profundas de desigualdade social e concentração fundiária. A professora Diane Gemelli explica que a escolha da região como área de atuação do projeto não é por acaso: "O Contestado foi palco de uma luta intensa por terra e por direitos, e até hoje a realidade local reflete essa herança. A concentração de terras continua sendo um grande problema, e as condições de vida das comunidades são impactadas por essa estrutura desigual".
O OQA-Contestado surge como uma forma de responder a essa realidade, promovendo ações que vão além da reflexão acadêmica, traduzindo-se em iniciativas práticas voltadas à justiça social e territorial. O projeto está vinculado ao Observatório da Questão Agrária no Paraná – OQA-PR, uma rede de professores de instituições públicas do estado que, desde 2013, desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão em diálogo com movimentos sociais, sindicatos e comunidades tradicionais. "Nosso objetivo é problematizar a questão agrária no Contestado, construindo pontes entre a universidade e os diferentes sujeitos sociais que vivem essa realidade de perto", ressalta a professora Diane.
Uma das principais iniciativas do projeto é a organização da Feira da Diversidade, realizada semanalmente no campus da Unespar em União da Vitória. A feira nasceu de uma demanda apresentada por camponesas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em 2018, que buscavam um espaço para comercializar os produtos agroecológicos que produziam, como hortaliças, verduras, panificados e conservas. "A feira não é apenas um espaço de comércio, mas também de formação, onde debatemos a relação da sociedade com a terra e o alimento, valorizando o trabalho justo e a produção responsável. É um momento em que a universidade se torna um ponto de encontro entre saberes acadêmicos e populares", conta a coordenadora do projeto.
A Feira da Diversidade ocorre todas as terças-feiras, a partir das 18h30, no pátio do campus, e reúne produtores da agricultura camponesa e trabalhadores urbanos em situação de vulnerabilidade socioeconômica, que têm dificuldade de inserção no mercado convencional. A professora Diane enfatiza a importância desse espaço: "Queremos incentivar a produção responsável, sem o uso de agroquímicos, e promover relações de trabalho justas. A feira é uma forma de gerar renda para essas pessoas, mas também é um espaço de conscientização sobre o consumo ético e sustentável".
Outro importante eixo de atuação do projeto é a construção de um banco de dados e um acervo fotográfico sobre a questão agrária no território do Contestado. Essas produções serão disponibilizadas online e estarão acessíveis a professores, estudantes, sindicatos, movimentos sociais e todos aqueles que se interessam pela temática. "Estamos sistematizando informações valiosas sobre a concentração de terras na região e sobre as lutas sociais que emergem desse contexto. O material que estamos produzindo inclui gráficos, mapas, fotografias e tabelas que podem ser utilizados como ferramentas pedagógicas e como instrumentos de mobilização social", destaca a coordenadora Diane.
O projeto de extensão também promove atividades de campo, que levam estudantes e professores para conhecerem de perto as manifestações da questão agrária no Contestado. "Organizamos oficinas e atividades nas escolas da região, onde buscamos refletir sobre como a concentração fundiária e as disputas pela terra impactam o território e a vida das pessoas. Além disso, incentivamos os estudantes a desenvolverem uma leitura Geo(foto)gráfica da região, reconhecendo as marcas do passado e do presente nas paisagens que observam", explica a professora.
Para a coordenadora Diane, o projeto tem uma importância crucial, tanto para a universidade quanto para as comunidades rurais e movimentos sociais da região. "Estamos problematizando as estruturas de poder e desigualdade que historicamente moldam o território do Contestado. E, ao mesmo tempo, estamos fortalecendo as lutas e resistências dessas comunidades, promovendo espaços de diálogo, formação e solidariedade."
Ela também reforça que todos aqueles interessados em se somar às ações do OQA-Contestado são bem-vindos. "O projeto é aberto a todos que queiram construir uma sociedade mais justa, com uma distribuição de terras mais equitativa, com justiça social e territorial. Juntos, podemos trabalhar para romper com as cercas que limitam o acesso à terra e os direitos sociais", conclui a professora Diane.
Para mais informações, entre em contato com a professora e coordenadora do projeto, Diane Gemelli, pelo email: daiagemelli@unespar.edu.br.