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Serviços gerais: a área dominada por mulheres na Unespar

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por publicado: 17/03/2021 09h46 última modificação: 05/07/2022 08h29

Com o isolamento social imposto pela pandemia de Coronavírus, os campi da Universidade Estadual do Paraná (Unespar) estão quase vazios. Contudo, um grupo composto principalmente por mulheres tem trabalhado incansavelmente para manter cada campus limpo e em ordem. São as responsáveis pelos Serviços Gerais, mulheres que trabalham de maneira terceirizada e que desempenham um papel fundamental na conservação dos prédios da Unespar.

Ao todo, 46 mulheres trabalham nessa atividade na universidade, o que corresponde a 82,14% dos colaboradores de Serviços Gerais. Conversamos com três mulheres de campi diferentes, que executam esse trabalho tão importante para a universidade. Conheça cada uma delas.


 "Eu gosto muito do que eu faço”

Marta José dos Santos, 55, trabalha há cinco anos na Unespar, campus Curitiba I/Embap, no setor de serviços gerais. É natural de Ivaiporã e começou a trabalhar desde pequena, na roça, junto com a sua mãe e irmãos. Por isso, não estudou. “Mas o que me pedirem eu faço, tendo estudo ou não”, afirma. Aos 16 anos se casou, foi embora para Curitiba e teve suas três filhas.

Para sustentá-las, Marta começou a trabalhar em um posto de combustível e, aos 19 anos, separou-se do marido alcoólatra. “Ele bebia demais e eu já tinha três filhas com ele. Eu não aguentava”, desabafa. Antes da separação, comprou um terreno junto com o ex-marido e levou um golpe, pois ele não pagou a parte que lhe cabia. Mesmo assim, ela passou a trabalhar em firmas terceirizadas, com serviços gerais, para poder quitar a dívida.

Marta afirma que sempre foi muito pobre, mas que sua vida mudou quando começou a trabalhar com limpeza e pode comprar sua casa e, após 30 anos, já alocada na Unespar, conseguiu pagar seu terreno. “Eu gosto muito do que eu faço”, admite Marta, ao lembrar de tudo que conquistou. 

A rotina dela começa logo pela manhã, quando chega no campus Curitiba I e limpa a sala da Direção de Campus, o corredor da universidade, a portaria e a sala do porteiro. Durante a tarde, revisa o trabalho feito anteriormente. Seu expediente se encerra às 16 horas. 

Em seu tempo livre, Marta costuma plantar, capinar e caminhar. Gosta muito de fazer crochê e também costuma doar roupas e cestas básicas a pessoas necessitadas que moram em seu bairro.

Com o serviço de limpeza, Marta conseguiu fazer com que duas de suas filhas se formassem no Ensino Superior, uma em Psicologia e outra em Contabilidade. Sua outra filha é dona de uma lanchonete e de uma chácara e também deu, à Marta, seus três netos.

Ao fim de nossa conversa, Dona Marta, como costuma ser chamada, contou com alegria que falta apenas um ano e dez meses para se aposentar por tempo de serviço.


"Quando você ama o que faz, você sonha ali. E eu sonho bastante"

Há quase três anos trabalhando no campus Campo Mourão, Eli Kamradt, 56 anos, acorda antes das 6 da manhã todos os dias, faz seu chá e se ajeita para sair. Vaidosa que é, está sempre com seu batom roxo, agora coberto pela máscara para proteger da Covid-19. Dona Eli, como é conhecida por todos, trabalha na rotina da limpeza do campus.

Antes da pandemia, limpava sozinha o prédio onde funcionavam os setores da Reitoria que ficam na cidade, localizado na saída para Mamborê. Hoje, integra a equipe de sete mulheres que limpam, divididas em dois turnos, o campus central da universidade em Campo Mourão.

"Estou sem nenhum setor fixo, faço a limpeza de setores que as pessoas não estão usando muito no momento: Desenho, Geografia, História, Inglês, de tudo um pouco", comenta. "É uma coisa que eu gosto muito de fazer, porque são lugares que você entra e sonha", admite dona Eli. "Você entra e imagina, enquanto está limpando, as coisas que estão aprendendo ali", conta. "Onde você trabalha, quando você ama o que faz, você sonha ali. E eu sonho bastante".

Mãe de três filhos e avó de seis - uma do coração e uma que deve nascer em maio - , Eli mora sozinha desde o divórcio com o marido. "Depois da separação, saí para trabalhar sem estudo e sem experiência em quase todas áreas, mas ergui a cabeça e fui à luta, trabalhei de tudo um pouco e consegui esse trabalho de Serviços Gerais na Unespar", lembra.

Em casa, cultiva os chás de que tanto gosta, além de outras plantas e dos animais, sua paixão nada secreta: cuida do seu e dos que vivem na rua. Ama ler e estar em contato com a natureza. Por isso, sempre que pode, passeia em parques, sítios e afins. "Gosto de lugares assim, que chamam para a natureza, para a terra, para respirar um ar maravilhoso, ver a natureza crescendo, o canto dos pássaros, uma mina d'água, estar realmente no meio da criação de Deus", complementa.

Ela admite que reduziu a leitura por conta da pandemia, apesar de estar lendo quatro livros ao mesmo tempo. "Estou lendo pouco porque, no tempo em que estou em casa, os netos ficam comigo". Mesmo assim, Eli está satisfeita, pois esses momentos próximos da família são de muita alegria.


“Nós, mulheres, somos guerreiras, pois passamos por muitas coisas e levantamos a cabeça”

Neuza Maria de Arruda Farias, 58, trabalha há dois anos na Unespar, campus Curitiba II/FAP, como funcionária terceirizada dos serviços gerais. Desde muito jovem precisou trabalhar para sustentar seus três filhos, pois ficou viúva aos 26 anos. “A minha vida foi muito difícil, mas sempre batalhei e venci, graças a Deus”, exclama Neuza. 

A rotina dela começa logo pela manhã, ao pegar dois ônibus para poder se deslocar até o trabalho. Logo que chega, toma seu cafezinho e, em seguida, vai limpar as salas de aula e a sala do diretor do campus. Apesar de ter conhecido diversos ambientes de trabalho, Neuza considera que a Unespar foi o local onde melhor se adaptou.

Por conta da pandemia de Covid-19, as aulas presenciais foram suspensas na universidade e Neuza explica sentir falta de conviver entre os alunos e professores, pois ama estar sendo útil para eles. “Para mim, é uma maravilha quando tem aula, porque eu amo ficar no meio dos alunos e professores. O dia passa que a gente nem vê”, assegura.

Neuza é muito caseira e sua rotina de vida se resume ao trabalho e cuidar de seu lar, suas plantas e seus cachorros, Buiu e Vick, mas quando tem um tempo livre, sempre o dedica à leitura. Nos finais de semana gosta de preparar um almoço para receber os três filhos, os netos e seu bisneto. “Nós, mulheres, somos guerreiras, pois passamos por muitas coisas e levantamos a cabeça”, finaliza. 

Autoras: Marina Santos Daum e Paula Fernandes

 

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